domingo, 5 de julho de 2015

Costa Sudoeste





O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina abrange uma região costeira que alterna entre zonas de falésias alcantiladas e estuários de ribeiras que sulcam um planalto litoral constituído por paleodunas do paleozóico.
Iniciámos o percurso na Zambujeira do Mar, uma aldeia de pescadores com casas brancas que se erguem num promontório. Daqui tem-se de uma vista soberba sobre a praia e a costa recortada.



Da praia prosseguimos por um caminho em terra batida na direcção do Carvalhal da Rocha. Dos dois lados, terrenos de agricultura intensiva e estufas.
Assustados pelo toar intermitente de salvas de alarme que, além de afastar a passarada, nos introduziu ao confronto entre a expansão latifundiária e os habitats naturais reduzidos a nichos junto a falésias inacessíveis.


De facto, apesar dos cartazes turísticos apresentarem esta região como sendo a última costa selvagem da Europa, tal não poderia corresponder menos à realidade.
Viemos a constatá-lo no troço entre a Praia do Carvalhal e a Azenha, onde toda a faixa entre a N120 e o litoral se encontra ocupado em centenas de hectares por estufas que, para além de terem destruído toda a vegetação endémica, também obstruíram os caminhos públicos, transformando esta parte do Parque Natural num verdadeiro gueto, onde sul-americanos trabalham de sol a sol.
Mais à frente, o cenário não se torna mais animador! Grandes extensões de estufas e agricultura intensiva prolongam-se até às proximidades do vale de Odeceixe.
Aqui somos surpreendidos por uma vasta extensão aplanada, onde gado bovino pasta nas margens da ribeira, rodeado por comunidades de juncal que vegetam junto a uma estreita faixa de sapal.
A vila de Odeceixe é ainda mais acolhedora, com as ruas e as esplanadas cheias de turistas. Encontrámos com facilidade um sítio agradável para pernoitar: a Casa de Hospedes Celeste


No dia seguinte, o pequeno-almoço foi escasso face à íngreme subida que tivemos de percorrer até superar o vale da ribeira de Odeceixe.
No entanto, de volta ao planalto, começámos a “rodar” com bom ritmo, até sermos interceptados por um proprietário empenhado em impedir a nossa passagem por um caminho público que atravessava o seu terreno. Confrontado com a iminência do contacto com a polícia, rapidamente se pôs a andar.


Esta é a típica atitude do proprietário português descontextualizado do que o rodeia, que contrasta com o direito de passagem tão enraizado na cultura anglo-saxónica.
Na direcção de Maria Vinagre, mais uma vez nos deparámos com a ocupação desenfreada da área do Parque Natural com as estufas e agricultura intensiva.
Chegados àquela localidade, descansámos num café, antes de nos aproximarmos pela primeira vez do litoral verdadeiramente selvagem, numa zona chamada Esteveira. Neste local somos contagiados pela energia das escarpas que desafiam a fúria das ondas.



Não obstante, o caminho era agora um carreteiro pouco apto à prática do BTT e, para piorar, mais à frente, desembocava em paleodunas, onde a areia nos obrigou a levar a bicicleta à mão.






Por fim, uma estrada municipal levou-nos até ao Rogil, poiso para novo café, após uma espreitadela à praia do Vale dos Homens.
Dirigimo-nos novamente para o litoral em direcção à praia da Carreagem. Aqui, um passadiço de madeira possibilita o acesso à água tão desejada, onde nos refrescámos em agradáveis piscinas naturais, rodeadas por rochas polvilhadas de caracóis do mar e minhocas verdes.



Já no final do dia, num último fôlego, subimos o passadiço de volta ao planalto e retomámos, com dificuldade, à paleoduna, a qual não iríamos abandonar até ao vale da Ribeira de Aljezur.
Terminámos o percurso junto à foz desta última, na Praia da Amoreira, onde mergulhámos noutra agradável piscina natural.


A montante, sapais intercalados por terras agrícolas conduzem-nos, agora de táxi, à N120 e ao carro.



Artur





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