O
trilho dos moinhos da Ribeira Funda é o mais recente percurso
pedestre homologado na Ilha de S. Miguel.
É
da autoria de Telmo Pacheco, e foi concebido no âmbito da sua PAP,
enquanto aluno finalista da Escola Profissional EPROSEC, onde
frequentou o curso de Técnico de Gestão do Ambiente.
A
marcação do percurso é muito recente, tal como a plataforma
existente junto à Ermida de Nossa Sr.ª da Aflição, que serve de
miradouro ao terreno de jogo.
Entusiasmados, fizemo-nos ao caminho, passando por um renque de coloridas casas
térreas, que nos lançam olhares ainda pouco habituados a forasteiros.
A
vida local parece não sofrer de grandes sobressaltos. Agora que a nova SCUT
afastou a correria do trânsito da Costa Norte, o Lugar vira-se para
o mar, numa cadência de pastagens e alguns terrenos agrícolas a
contrastar.
Rapidamente
nos adentramos na escuridão da densa vegetação que ladeia a
Ribeira, última sobrevivente dos fogos e dos lenhadores que, num
período inicial, moldaram a fisiografia da Ilha.
Aqui, ainda encontramos criptomérias que nos ladeiam, até aos Moinhos do
Crim, um aglomerado de ruínas de vários moinhos de cubo vertical,
técnica que permite aumentar a pressão da água no rodízio e
atenuar a sua escassez no Verão.
Ali
perto, uma queda de água faz as delicias dos olhos do caminhante e - no Verão - convidaria a um banho refrescante.
Prosseguindo
caminho pela margem direita da ribeira, alcançamos mais um moinho de
cubo vertical. Este foi alvo de um projecto de requalificação que pretendia transformá-lo numa "casa de fresco". No entanto, o projecto
não vingou, e restam hoje quatro paredes e várias mós, certamente
com muitos grãos para contar.
Mais
a jusante, outro aglomerado de moinhos tenta emergir da vegetação.
Aqui ainda se conserva operacional parte do mobiliário.
Estes
moinhos constituiram, nos finais do séc. XIX e inícios do séc. XX,
uma importante fonte de rendimento, alternativa às plantações de
laranja, as quais foram erradicadas por completo da Ilha, devido às pragas e
envelhecimento das árvores.
Mais
para Norte, uma rocha com uma abertura desperta a nossa atenção.
Será a Rocha do Padre do Norte? Tentamos alcançar a entrada mas sem
sucesso... é bastante escorregadia, mais parece uma furna...
De
súbito, eis toda a imensidão do Oceano, e a foz da Ribeira Funda. O
caminho começa então a subir, em zigue zagues sucessivos até
alcançar, de novo, a parte superior da Lomba, já com o lusco fusco a
impôr-se lá para os lados das Sete Cidades.
Tempo
ainda para um coro de baixos bem dotados, que saúdam o andarilho com
graves entoações, adensadas pelo frenético magnetismo
que aquece o chão e o coração de quem passa.
A
aldeia reaparece por fim, cheia de cor, acolhendo o caminhante nos
seus longos braços e devolvendo-o ao tempo.
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